Você já ouviu falar em Esquema Desadaptativo? Esquemas Desadaptativos são emoções, pensamentos e comportamentos adquiridos na infância e que quando adultos se tornam disfuncionais, causando sofrimento.
De início, é importante frisar que foi encontrada correlação entre todos os esquemas desadaptativos, de forma que, mesmo esquemas pertencentes a domínios distintos apresentaram relação significativa entre si. Esse resultado concorda com a teoria, especialmente quando se leva em consideração que a origem de todos os esquemas é remetida à época da infância (Nordahl, Holthe, & Haugum, 2005; Turner, Rose, & Cooper, 2005), pois a formação dessas estruturas cognitivas se dá nos primeiros anos de vida, a partir da interação com os pais/familiares/cuidadores (Baker & Beech, 2004; Schmidt & Joiner, 2004) e da não satisfação das necessidades básicas ou, ainda, da exposição a experiências traumáticas (Nordahl et al., 2005). Desse modo, além de sua origem, a correlação encontrada também faz sentido pelo fato de os esquemas formarem uma estrutura cognitiva única o núcleo do autoconceito individual (Schmidt & Joiner, 2004).
Em termos gerais, verificou-se que quando comparados sujeitos com TEPT e grupo-controle, foi possível detectar a presença de esquemas/ crenças disfuncionais ou EID associados à gravidade do TEPT, corroborando a ideia proposta por Dalgleish (2004), que afirma que os esquemas têm dois princípios poderosos para a organização do conhecimento. O primeiro refere-se às experiências passadas, representadas em diferentes níveis de abstração, utilizadas como filtros pelos quais todas as novas experiências são processadas. Já o segundo princípio sugere que novas informações, as quais são extremamente inconsistentes com os esquemas, são perturbadoras e acabam levando os EID a assimilarem ou organizarem de certa forma e/ou se-rem modificados por essas novas experiências (acomodação). Nesse sentido, possivelmente os indivíduos que não desenvolvem TEPT diante de um even-to estressor processem a experiência de modo mais adaptativo, o que corrobora os achados de Ali et al. (2002) (Tabela 2).
Embora a Teoria Cognitivo-Comportamental tradicional tenha trazido importantes contribuições, estudos recentes têm apontado que em pacientes crônicos, os efeitos em longo prazo dessa abordagem não têm sido frutíferos (Young, 2003; Young, Klosko, & Weishaar, 2008; Wainer et al., 2016). Nesse cenário, a Terapia do Esquema têm se apresentado como uma alternativa eficaz (Malogiannis et al., 2014; Renner, Arntz, Leeuw, & Huibers, 2013). Esse modelo de terapia se configura como uma ampliação da Teoria Cognitiva de Aaron Beck e pressupõe que desde o nascimento os seres humanos possuem necessidades emocionais (ex. vínculos seguros, base estável, previsibilidade, dentre outros) que são primordiais para o desenvolvimento e estabelecimento de esquemas adaptativos (Young, 2003;Young et al., 2008). Por outro lado, a junção de aspectos do temperamento e de necessidades emocionais não satisfeitas pode levar a construção de esquemas desadaptativos iniciais/precoces (Young, 2003).
A Terapia do Esquema tem se mostrado relevante para a compreensão de uma série de transtornos psicológicos. Dentre eles, a literatura aponta para Transtornos de Personalidade (Bamelis, Evers, Spinhoven, & Arntz, 2014; Young, 2003), do amor patológico (Boscardin & Kristensen, 2011), da violência conjugal (Paim & Falcke, 2016), do estresse pós- traumático (Susin, Carvalho, & Kristensen, 2014), do consumo de álcool (da Silva, Cazassa, Oliveira, & Gauer, 2012), do suicídio (Della Méa, Zancanella, Ferreira, & Wagner, 2015), da ansiedade (Baljé et al., 2016; Hawke & Provencher, 2011; Wells, 2013) e da depressão (Carter et al., 2013; Cláudio, 2009; Malogiannis et al., 2014).
Primeiramente, foram definidas as questões a serem investigadas, e foi estabelecido o que seria incluído na revisão. Posteriormente, foram realizadas a localização e a seleção dos estudos relevantes a serem revisados. As bases de dados eletrônicas (PsycInfo, PubMed, Lilacs e SciELO) foram consultadas retrospectivamente até o ano 2000, e foram utilizados os seguintes descritores: (Post-traumatic Stress disorder, PTSD or trauma) and schema; and schemata; and dysfunctional beliefs" e (Transtornos de estresse pós-traumático, TEPT or trauma) and (esquemas or crenças)".
Procedeu-se, então, com a criação de dois modelos por meio de Regressões Logísticas Binárias. Tais análises objetivaram investigar quais dos esquemas desadaptativos conseguiriam predizer, de forma significativa, a condição de apresentar sintomatologia ansiosa e sintomatologia depressiva, ou seja, ter uma maior presença de sintomas ansiosos e depressivos com base nas medidas adotadas. Em resumo, almejou-se criar um modelo explicativo dos transtornos mentais comuns depressão e ansiedade, a partir dos esquemas desadaptativos propostos por Jeffrey Young (2003).
Como mencionado, de acordo com os resultados desse estudo, as crenças de perigo na ansiedade parecem revolver em torno do Fracasso. Por definição, uma pessoa com alta pontuação nesse esquema apresentaria crenças de inaptidão, falta de talento, inferioridade, baixa inteligência ou capacidade cognitiva, sentir que são fadados ao fracasso, menos exitosos ou inferiores aos outros, entre outros (Young et al., 2008). Desse modo, a identificação da pontuação elevada nesse esquema pode ser útil para orientar a intervenção e, possivelmente, prevenir a cronicidade dos sintomas ansiosos, facilitando sua identificação precoce.
No que se refere à forma de lidar com esses esquemas, a teoria aponta que a ativação de um esquema é algo ameaçador e, nessas situações, o indivíduo poderá utilizar estilos de enfrentamento desadaptativos que contribuem para perpetuar o esquema em questão, como é caso da resignação, evitação e hipercompensação (Falcone, 2011; Young, 2003). Desse modo, o objetivo da Terapia do Esquema tem sido, por meio do estabelecimento de uma aliança terapêutica segura e de intervenções cognitivas, comportamentais, experienciais e interpessoais, aumentar o controle consciente do paciente sobre os seus esquemas, visando modificá-los, assim como os estilos de enfrentamento desadaptativos (Falcone, 2011).
O presente estudo objetiva propor um modelo explicativo para Ansiedade e Depressão, tendo por base a Terapia do Esquema de Jeffrey Young. Em outras palavras, almeja identificar quais esquemas desadaptativos contribuem para explicação da condição de apresentar sintomatologia ansiosa ou depressiva. Para tanto, contou-se com uma amostra de 406 pessoas e fez-se uso da Escala de Ansiedade, Depressão e Stress e da Versão Brasileira do Questionário de Esquemas de Young. Inicialmente, por meio de uma correlação r de Pearson foi possível selecionar quais esquemas desadaptativos mantinham uma relação de maior força com a ansiedade e a depressão e, a partir disso, os dados foram analisados através de uma análise de regressão logística binária. Nessa última, foram inseridos como preditores os esquemas que tinham maior correlação com os construtos de interesse. Os resultados indicaram que o esquema desadaptativo de Fracasso apresenta maior probabilidade de predizer o pertencimento ao grupo de maior pontuação em ansiedade, ao passo que, para a depressão, além do esquema Fracasso, o esquema Abandono também foi significativo. Tais resultados são condizentes com a literatura e representam um avanço, na medida em que podem fornecer subsídios para uma intervenção eficaz em contexto clínico e na elaboração de políticas públicas.
Garnefski, N., Teerds, J., Kraaij, V., Legerstee, J., & Kommer, T. (2004). Cognitive emotion regulation strategies and depressive symptoms: differences between males and females. Personality and Individual Difference, 36(2),267-276. doi: 10.1016/SO191-8869(03)00083-7 [ Links ]
Leme, V. B. R., & Bolsoni-Silva, A. T. (2010). Habilidades sociais educativas parentais e comportamentos de pré-escolares. Estudos de Psicologia, 15(2)161-173. doi:10.1590/S1413-294X2010000200005 [ Links ]
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Sobre os grupos investigados composto por pais e mães, a amostra foi dividida em dois grupos: 70,1% (n=108) do sexo feminino e 29,9% (n=46) do sexo masculino, residentes na Região Metropolitana de Porto Alegre, a idade variando entre 24 e 59 anos (M=38,8 anos DP=6,5). Os participantes em sua maioria eram casados (71,4%, n=110), com ensino superior completo (27,9%, n=43). Segundo os Critérios de Classificação Econômicas Brasil, 25,3% (n=38) pertenciam à Classe A2, enquanto que, 29,3% (n=44) pertenciam à Classe B1, e esta mesma proporção à Classe B2.
Quais são as relações entre esquemas iniciais desadaptativos, habilidades sociais e satisfação conjugal?
Após, avaliando a diferença entre HSE-P de pai e mãe, as pontuações médias das mães também se mostraram mais elevadas que dos pais. Os resultados demonstraram que as médias mais elevadas foram nos fatores estabelecer limites, corrigir e controlar, conversar e dialogar e no fator total das HSE-P, conforme descrito na Tabela 2.
O termo “Early Maladaptive Schema” (EMS) foi identificado em sete artigos, encontrados sob formas de definição (7 artigos), origem (6 artigos) e/ou funcionamento (5 artigos). Destacam-se nas definições encontradas que EMS circundam temas sobre o self e as relações pessoais e são descritos como estruturas estáveis e duradouras que formam o núcleo do auto-conceito individual (Cecero, Nelson & Gillie, 2004; Jovev & Jackson, 2004; Nordahl, Holthe & Haugum, 2005; Richardson, 2005; Schmidt & Joiner, 2004). Também é caracterizado como incondicional, hipervalente, auto-perpetuável e muito resistente à mudança (Jovev & Jackson, 2004; Schmidt & Joiner, 2004; Turner, Rose & Cooper, 2005). Alguns estudos afirmam que os EMS são ou compreendem crenças disfuncionais estáveis e duradouras sobre si mesmo (Schmidt & Joiner, 2004; Turner et al., 2005). Outros artigos afirmam que os EMS abrangem memórias, emoções, cognições, sensações corporais e aspectos comportamentais (Cecero et al., 2004; Nordahl et al., 2005).
Uma das consequências mais graves decorrentes das situações traumáticas é o desenvolvimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Estima-se que 60,7% dos homens e 51,2% das mulheres tenham vivenciado algum evento traumático ao longo da vida (Kessler, Sonnega, Bromet, Hughes, & Nelson, 1995). Estudos epidemiológicos apontam que cerca de 6,8% da população geral irão desenvolver TEPT ao longo da vida, tendo as mulheres um risco maior do que os homens (Breslau, 2009; Kessler, Chiu, Demler, & Walters, 2005; Norris, 1992). No entanto, esses índices podem variar de acordo com a duração e o tipo de exposição ao trauma. O TEPT acomete mais homens que participaram de combates militares e presenciaram pessoas sendo mortas e feridas, assim como mulheres que sofreram abuso sexual (Hidalgo & Davidson, 2000). Nesses casos, o trauma é processado de modo a configurar uma presente ameaça, que surge como consequência de uma avaliação excessivamente negativa do trauma e uma perturbação da memória autobiográfica, devido à fraca elaboração e à forte memória associativa ao evento estressor (Ehlers & Clark, 2000).
Entre as limitações deste estudo, pode-se destacar as desigualdades de proporção amostral nas variáveis de gênero, escolaridade, estado civil, número de filhos, tipo de relacionamento e região do Brasil, o que impossibilita a generalização da amostra, devido a suas características não serem equilibradas. Diante disso, considera-se importante que novos estudos possam corrigir esta distorção e avancem por novos caminhos, como a inclusão de variáveis de gênero e étnico-raciais, que se apresenta como necessária para a literatura.
Welburn, K., Coristine, M., Dagg, P., Pontefract, A., & Jordan, S. (2002). The Schema Questionnaire Short form: factor analysis and relationship between schemas and symptoms. Cognit Ther Res, 26(4),519-30. doi: 10.1023/A:1016231902020 [ Links ]
Wells, A. (2013). Cognitive therapy of anxiety disorders: A practice manual and conceptual guide. Chichester, United Kingdom: John Wiley & Sons. [ Links ]
Adicionalmente, observou-se que todos os esquemas desadaptativos apresentaram correlações significativas com os construtos de interesse (ansiedade e depressão). Tal resultado confirma a relação apontada pela literatura entre essas variáveis (Baljé et al., 2016; Malogiannis et al., 2014) e oferece suporte para a validade da intervenção clínica com foco nos esquemas desadaptativos (Taylor, Bee, & Haddock, 2017).
a maneira pela qual uma situação é avaliada depende, pelo menos em parte, das crenças relevantes subjacentes. Essas crenças estão inseridas em estruturas, mais ou menos estáveis, chamadas de ‘esquemas’, que selecionam e sintetizam os dados fornecidos. (...) Consideramos as estruturas básicas (esquemas) das quais dependem esses processos cognitivos, afetivos e motivacionais como as unidades fundamentais da personalidade (Beck et al., 2005, p. 31).
Young (2003) apresenta 18 esquemas, que são organizados em 5 domínios, a saber: 1) Desconexão e Rejeição (Abandono/ Instabilidade, Desconfiança/Abuso, Privação Emocional, Defectividade/Vergonha e Isolamento Social/Alienação): característico de indivíduos que possuem incapacidade de formar vínculos seguros de maneira satisfatória com outras pessoas; 2) Autonomia e Desempenho prejudicados (Dependência/Incompetência, Vulnerabilidade a Danos e Doenças, Emaranhamento, Self Subdesenvolvido e Fracasso): presente em indivíduos que apresentam expectativas sobre si e sobre o mundo que interferem em suas habilidades para se separar, sobreviver e funcionar de forma independente; 3) Limites Prejudicados (Merecimento/Grandiosidade e Autocontrole/Autodisciplina Insuficientes): abrange indivíduos que apresentam falta de limites no cumprimento de regras, dificuldade em ter autodisciplina e que desrespeitam os direitos alheios; 4) Orientação para o outro (Subjugação, Autosacrifício e Busca de Aprovação/Reconhecimento): contempla indivíduos que tendem a manter uma postura que visa atender a todas as necessidades dos outros em detrimento das suas e o fazem no intuito de receber aprovação e evitar retaliações; e 5) Supervigilância e Inibição (Negativismo/Pessimismo, Inibição Emocional, Padrões Inflexíveis/ Crítica Exagerada e Postura Punitiva): agrega indivíduos que reprimem seus sentimentos e impulsos com a finalidade de cumprir regras rígidas internalizadas, em prejuízo de sua própria felicidade, auto-expressão e relacionamentos íntimos (Falcone, 2011; Young, 2003).
De acordo com Parker (2002), algumas das subclasses de habilidades necessárias para um relacionamento saudável são: consultar o parceiro previamente sobre a tomada de decisões; estabelecer e manter uma boa comunicação; desenvolver e aprimorar capacidade de lidar com conflitos; priorizar valores como equidade, confiança, respeito e compreensão; desenvolver intimidade sexual. Gottman e Rushe (1995, citado por Villa et al., 2007) identificaram cinco subclasses de habilidades sociais comumente elencadas em terapias conjugais bem-sucedidas: validar a fala do outro; acalmar-se e observar a existência de alterações fisiológicas do outro; ouvir o companheiro de forma não punitiva; atentar-se para as formas de persuasão do parceiro, a fim de evitar que esse comportamento seja fortalecido; e apresentar comportamentos alternativos, impossibilitando o ciclo queixa-crítica. Subclasses e classes de HS, como habilidades de comunicação, assertividade, empatia e de civilidade parecem fundamentais para o estabelecimento e manutenção de satisfação conjugal (Del Prette & Del Prette, 2001; Sardinha et al., 2009)
Quando analisada a adequabilidade do modelo aos dados, somente o segundo modelo mostrou aderência satisfatória aos dados (R2 de Hosmer e Lemeshow = 0,79; boa distribuição no diagrama de classificação; acurácia global de 52,7% para 72,3%). As demais medidas de adequabilidade podem ser observadas na Tabela 3.
Os níveis de satisfação conjugal de um indivíduo parecem ser influenciados por seus esquemas, estruturas cognitivas consistentes que funcionam como um filtro para a maneira como um indivíduo percebe e interpreta os eventos e estímulos a que é submetido (Young, 2003). Os esquemas são formados a partir da interação do indivíduo com o ambiente e, embora tradicionalmente seja dado um foco maior às fases iniciais do desenvolvimento, eles podem ser criados mesmo na vida adulta (Leahy, 2019). De forma semelhante, ainda que eles possam ser adaptativos, maior atenção tem sido dada aos esquemas desadaptativos.
Um construto que possibilita compreender a qualidade das relações amorosas é a Satisfação Conjugal (SC), definida como uma avaliação subjetiva a respeito do comportamento dos cônjuges e da percepção de sucesso do relacionamento, proveniente do resultado da comparação entre a relação idealizada e a relação real mantida entre os envolvidos (Dela Coleta, 1989). Segundo Dela Coleta (1991), a manutenção de um relacionamento dependeria da satisfação com fatores como companheirismo/amizade, diálogo/comunicação, fidelidade/lealdade, sinceridade/honestidade, sexo, confiança, amor, compreensão, respeito, renúncia/perdão, dentre outros. Lopes (2012) mostrou que quanto maior a satisfação conjugal, maior a satisfação sexual e maiores os valores de dimensões da intimidade, nomeadas como validação pessoal, comunicação, abertura ao exterior e convencionalidade.