Sófocles nasceu em Colonos, perto de Atenas. Viveu em Atenas na época de Péricles, no século V A.C., momento de riqueza e de esplendor. Ambientou suas peças em torno de Édipo, o herói que matou o pai e se casou com a própria mãe. Antígona era filha incestuosa de Édipo, nascida do ventre da infeliz Jocasta.
A posição sustentada por Creonte fora que o casamento de seu filho Hémon com Antígona estaria condenado ao fracasso. Primeiro no que se refere à maldição recaída sobre os Labdácias e segundo, no que compele à personalidade intransigente e ‘insubmissível’ de Antígona, o que ameaçaria a ‘boa ordem viril’, comprometendo a instauração da nova linhagem de Creonte. Seu filho no entanto, possui outra visão dos fatos.
Antígona é fonte primária para o conhecimento do direito penal grego. Indica-nos a vingança pública (em substituição à vingança privada), a concentração dos poderes nas mãos de uma só pessoa, a ausência do princípio da reserva legal, a morte não identificada como razão extintiva de punibilidade, o clamor social contra decisão injusta. É de Sérgio de Oliveira Médici, procurador de Justiça e professor de Direito Penal, a seguinte passagem:
SÓFOCLES. Antígona; Tradução: J.B. de Mello e Souza. Versão para eBook, Clássicos Jackson, Vol XXII, 2005. Disponível em: <www.ebooksbrasil.com> Acesso em: dez. 2016.
“E agora sou arrastada, virgem ainda, para morrer, sem que houvesse sentido os prazeres do amor e os da maternidade. (…) Deuses imortais, a qual de vossas leis eu devo obedecer?”
“Convém não esquecer ainda que somos mulheres, e, como tais, não podemos lutar contra homens; e, também, que estamos submetidas a outros, mais poderosos, e que nos é forçoso obedecer a suas ordens, por muito dolorosas que nos sejam.”
O excerto sugere dicotomia entre lei dos homens e lei dos deuses. Vislumbra perenidade nessa e volatibilidade naquela. Sobrepõe a lei divina à lei dos homens, subtraindo dos mortais o poder de diminuir as leis divinas, nunca escritas, mas irrevogáveis.
Ao analisar a obra de Sófocles percebe-se a discrepância entre a lei para Antígona e para Creonte. Para a primeira haveria uma lei eterna e superior que se sobrepões a vontade dos homens. Já para o segundo, a lei seria a lei positivada, posta, a lei vigente. Ocorre então uma clara oposição entre um Direito Natural x Direito positivo. Antes de adentrarmos no que compele a essas duas escolas do Direito, faz por bem esmiuçarmos as personagens Creonte e Antígona.
Creonte irmão de Jocasta, descende de conselheiros reais e regentes, que só assumiram o trono em situações emergenciais. Creonte é referido como tirano, inflexível e egoísta, mas quando insiste nesta postura na condenação de Antígona, ao ler nas entrelinhas, percebemos que há uma preocupação além da aplicação da lei de Tebas. Na época clássica existira uma instituição jurídica que resguardava a sucessão ao trono ao filho da princesa de um líder morto. Por este estatuto, Creonte teria a obrigação de casar Antígona com o seu mais próximo parente – Hémon, seu filho. Assim, os filhos deste casamento seriam uma sucessão de Édipo, e não da linhagem de Creonte. Como ele não possuía outros filhos, sua linhagem se extinguiria em Hémon. Na perspectiva de Édipo, no entanto, Antígona, fruto de um casamento incestuoso, irmã dos fraticidas, representava a continuação de uma maldição que recaíra sobre Tebas. Sendo ela “a última raiz”, personagem que carrega consigo a estirpe altiva de seu pai, para Creonte atrairia com sua linhagem dos Labdácias a ira dos deuses. Este fato explica a antipatia de Creonte para com Antígona.
Antígona, heroína da obra, revela uma personalidade inquisidora que persegue seus ideais de justiça. Perpassando esta noção amplamente percebida, temos a posição de Antígona no direito sucessório de sua linhagem, apontada na obra pelo Corifeu: “Com seu caráter indomável, esta jovem revela que descende de um pai igualmente inflexível; ela não se deixa dominar pela desgraça!” contrapondo-se com a personalidade de sua irmã, Ismênia, que segue com os padrões de mulher da pólis clássica: recatada, submissa, frágil e suspeita. Antígona parece considerar-se superior a Creonte, por este não descender de uma linhagem de reis. “Nesta altivez, há um misto sutil de superioridade moral, dinástica e pessoal (egocêntrica) que expressa a tranquila convicção de ser uma personagem distinta e de ocupar um lugar à parte dos outros” (ROSENFIELD, 2002, p. 14).
O presente trabalho dedica-se a discorrer sobre a tragédia sófoclidiana Antígona e pretende construir uma leitura capaz de pensar em outros termos a grande polêmica que a peça coloca em questão no que diz respeito às relações entre Direito e Moral. Para tanto, a leitura toma como ponto de partida as características das personagens principais, relacionando suas características pessoais com a realidade vivenciada na época clássica.
Antígona desafiou a concepção positivista de norma, invocando regras transcendentais como justificativa para sua atitude de desafio. Sua ação deve ser avaliada num contexto, onde à mulher não era deferido o uso da lei, quando desprovida de direitos, num ambiente de poder masculino, mundo de homens. Ismênia, irmã de Antígona, realisticamente advertiu a heroína de que a condição feminina poderia diminuí-las:
Quando Antígona defende seu direito eterno assegurado pelos deuses percebe-se a similaridade entre seu discurso e o Direito Natural que consiste em um conjunto de normas jurídicas que derivam da natureza, caracterizado por sua permanência pois deriva de valores que antecedem a criação do Estado, universalidade pois seus preceitos são idênticos a todos os seres humanos, independentemente de suas condições culturais específicas e, seu caráter absoluto pois independe de qualquer autoridade local que o positive e que lhe dê valor.
Já o discurso de Creonte revela uma aspiração positivista do direito onde as normas jurídicas são aquelas positivadas pelo Estado e não dependem de critérios externos a elas, como a moral, o costume, a religião ou o direito natural.
Eis que o mal já havia ocorrido, Hémon ao adentrar o túmulo de pedra de Antígona a encontra sem vida, tendo se enforcado e, não suportando tal sofrimento, disfere um golpe de espada contra si mesmo. Ao saber da notícia, Eurídice, mãe de Hémon, não suportando a perda de dois filhos, se apunhá-la e antes de morrer, pede que todas as desgraças recaiam sobre seu marido Creonte.
“Creonte, rei de Tebas, havia proibido sob pena de morte para os desobedientes o sepultamento do cadáver de Polineices. Antígona resolve desafiar o edito ultrajante e realiza os ritos fúnebres do irmão. Surpreendida nesse ato, ela é levada à presença do rei enfurecido. Antígona justifica seu procedimento como sendo ditado pelas leis soberanas dos deuses. Creonte, irredutível, condena-a a ser sepultada viva em uma caverna subterrânea.”
"É verdade que, ao sepultar o corpo do irmão, Antígona age sozinha. Mas não merece a reprovação social e, em razão disso, a condenação dela por Creonte faz com que a população considere injusta tal decisão."
Ao ser informado do ocorrido, Creonte – que considera-se competente para impor qualquer lei que o convenha, mesmo que essa entre em desacordo com as crenças religiosas do povo, condena Antígona a ser sepultada viva, por ter contrariado as leis de Tebe. Em meio a seu julgamento, surge Hémon, noivo de Antígona e filho de Creonte, que tenta convencer seu pai a voltar atrás em sua decisão apelando para a razão e alerta seu pai que o povo apoia Antígona e vê sua ação como gloriosa pois honrou aquele que veio do mesmo ventre materno que ela, e destaca que o povo silencia por medo de ofender o Rei e não por apoiá-lo. Hémon vê em seu pai a figura de um ditador, que não age com prudência e Creonte reafirma seu lugar de governante dizendo que a ele cabe o dever de promulgar leis e a ele pertence Tebas, e acusa seu filho de ceder aos interesses de uma mulher, que por sua vez, responde dizendo que defende a justiça e a obediência aos Deuses Imortais e faz uma ameaça final: que morreria não somente uma pessoa, mais duas.
A obra de Sófocles revela-se até hoje atual, por simbolizar o embate entre o direito posto e a subjetividade moral de cada pessoa. Antígona em sua essência então representaria a personificação dos direitos individuais, mesmo que na época clássica tais direitos nem cogitavam existir pois a vontade das pessoas era submissa à vontade do Estado-Cidade. Entretanto, a obra pode ser observada do ponto de vista da evolução do direito perante os conflitos que permeiam a sociedade. Em suas obras, Sófocles propõe uma discussão política onde os meios para a obtenção de justiça seriam através da construção da subjetividade do direito. A busca pelo justo para Creonte e Antígona representou a negação do posicionamento um do outro e culminou a tragédia. Mesmo nas democracias da atualidade, não é raro surgirem normas jurídicas e morais antagônicas revelando que nem sempre os interesses do Estado e dos indivíduos coincidem e reclamando por uma solução que preserve a eficácia exigida do primeiro e as liberdade individuais do segundo — sem a qual a cidadania dá lugar à tirania.
Resposta: Simplificando a história, Antígona desafia as ordens de Creonte, que havia proibido o sepultamento de Polinices, um dos irmãos de Antígona. Isso, pois Polinices havia se unido a uma potência estrangeira contra Tebas, que era então governada por Eteocles, seu irmão, em uma batalha que custou a vida de ambos.
Na Mitologia Grega, Creonte, filho de Meneceu (por vezes designado, sem grande rigor, por Menécio), foi o pai de Hémon, e de Menoceu, marido de Eurídice. A sua história está intimamente ligada à história de Tebas, antes e depois do reinado de Édipo.
O argumento usado para tentar convencer Antígona a desistir de honrar seu irmão morto é de que ele foi um inimigo da pátria a qual ela pertencia e que ele a estava atacando.
Sófocles, na tragédia grega intitulada "Antígona", apresenta a oposição entre o Direito Natural (no caso da peça, Direito que provinha das crenças – deuses – e dos costumes) e o Direito Positivo (Direito imposto pelo representante do Estado).
Creonte, na mitologia grega, é o nome de um rei, filho de Meneceu. Mas, no Jiu-Jitsu, o significado é bem menos honroso. Criado pelo Grande Mestre Carlson Gracie, “Creonte” significa traidor, e é aplicado aos lutadores que abandonam sua academia e passam a competir por outra.
A Esfinge colocava um enigma aos viajantes, devorando aqueles que não encontrassem resposta. Édipo decifrou o enigma e o monstro lançou-se ao mar. Creonte tinha prometido o trono de Tebas e a mão de Jocasta a quem libertasse a cidade do terror da Esfinge.
Ao consultar o oráculo, Édipo recebe a mesma mensagem que seu pai Laio recebera anos antes, mas, acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo foge de Corinto. Em sua fuga, Édipo se depara com um bando de negociantes e seu líder e acaba por matá-los todos em uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai.
O mito do Édipo nos ensina que o sujeito deve simbolizar o que miticamente se desvelou como perda de satisfação e de gozo, acreditando poder recuperá-los em objetos substitutivos.
Significado de Édipo substantivo masculino [Figurado] Aquele que explica um enígma, que esclarece um ponto escuro. Etimologia (origem da palavra édipo).
Na psicanálise, o Complexo (ou síndrome) de Édipo, é um conceito criado pelo psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Ele foi embasado na tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles. ... Com isso, segundo Freud, o garoto, nessa fase confusa de construção de libido, cria um desejo pelo sexo oposto, no caso, sua mãe.
O termo Complexo de Édipo criado por Freud e inspirado na tragédia grega Édipo Rei designa o conjunto de desejos amorosos e hostis que o menino enquanto ainda criança experimenta com relação a sua mãe, e embora seja muito discutido na área da psicologia e psicanálise não é uma teoria cientificamente aceita por carecer ...
de 1882