Uma das picapes mais memoráveis do Brasil foi a Ford F100.
O modelo surgiu derivado da versão americana e logo fez sucesso por aqui, ainda mais numa época em que o país estava crescendo e necessitando de veículos comerciais leves que realmente ajudassem os negócios que estavam surgindo.
O da F-1000 era o D229-4 de 83 cv, da MWM, que produzia motores para tratores. A economia no bolso era de 40% em relação ao V8, que saiu de catálogo no mesmo ano. Ela manteve a carroceria que a F-100 adotava desde 1971.
Essa história de força e versatilidade só teria fim em 1998, ao dar lugar à F-250 e se tornar a picape que ensinou ao povo da cidade os prazeres de guiar um veículo que deu tanta alegria no campo.
A fibra de vidro reinou nos anos 70 e 80, já que sem possibilidade de importação, a demanda era atendida por essas empresas, algumas das quais revendedores. A F100 se beneficiou muito disso, mas a F1000 aproveitou mais.
Com cabine dupla e janelas laterais geralmente mais baixas, a picape da Ford oferecia mais espaço, conforto e comodidade aos ocupantes.
Mantinha-se boa parte dos componentes originais da F100, mas perdia-se em volume na caçamba. Rodas personalizadas, ar-condicionado e bancos em couro eram alguns dos itens oferecidos.
Como se tratava de um motor pequeno numa picape que beirava os 1.700 kg vazia, a Ford introduziu também um novo câmbio manual, este de quatro velocidades e alavanca instalada no assoalho, eliminando de vez a saudosa alavanca na coluna de direção. Com tudo isso, ia de 0 a 100 km/h em eternos 22 segundos, tendo máxima de 140 km/h.
Além disso, a Ford F100 ganhou um tanque maior, de 87 litros posicionado junto ao eixo traseiro que, aliás, sempre se manteve com eixo rígido e robustos feixes de molas semi-elípticas. Essa versão com motor Giorgia – o mesmo empregado no Ford Maverick e também no Ford Sierra argentino – que era feito em Taubaté-SP, também podia ter ignição eletrônica e diferencial traseiro autoblocante.
A F100 dos anos 70 eliminou com isso o vetusto V8 4.8 em 1978 e tentou ficar mais eficiente, mais por causa da Crise do Petróleo, que impactou direto nas picapes. Mas, como a Ford percebeu, a queda na performance não agradou os clientes e por isso o V8 foi mantido até que se conseguisse um motor melhor, potente, mas não tão gastão.
Essa aproximação do universo urbano possibilitou em junho de 1985 seu primeiro teste na revista, que não avaliava picapes grandes desde os anos 60. Foi um comparativo com a recém-lançada Chevrolet D-20.
Mesmo sendo bem mais cara que a irmã F-100, que continuava em linha, a F-1000 chegou a ser vendida com ágio no início. Trazia freio a disco na dianteira, servofreio e direção hidráulica opcional.
No ano seguinte viria uma nova carroceria, como a da americana. Em 1993, chegou a tração 4×4. “Mesmo pesando 2.395 kg, ela consegue arrancar em quinta marcha, até mesmo em subidas”, afirmava a edição de setembro.
A utilitária veio ainda com a versão Passeio, que tinha foco no conforto com suspensão mais macia e pintura “saia-e-blusa”.
A F100 dessa geração tinha ainda uma versão de trabalho, a Ranchero, que adotava o nome da picape leve da Ford no mercado americano. Esta era mais robusta e dura, mas ambas mantinham a mesma mecânica da anterior, ou seja, o velho Ford 292 V8 4.8 e seu câmbio manual de três marchas “no volante”.
É interessante notar que, em 1963, surgiu uma versão de cabine dupla desta picape com três portas, sendo a traseira do lado direito e com abertura invertida. O esquema é o mesmo empregado atualmente pela picape leve Fiat Strada Cabine Dupla.
O motor mostra bom torque, soando como um trator domesticado, mas falta força em ladeiras. O câmbio seco faz seus estalos, lembrando o do Opala. A suspensão é firme e os freios são eficientes com a caçamba vazia.
Na série limitada SSS (Super Série Special), a F-1000 demonstrou equilíbrio com a rival e se destacou em estabilidade e maciez da suspensão. Foi ligeiramente melhor no desempenho, mas ficou um pouco atrás em espaço na caçamba, ruído e escalonamento de marchas.
Na mesma época surgiu a F-1000-A, com um seis-cilindros argentino a álcool. Para 1986 vieram faróis retangulares e grade nova. O banco 2/3 de tecido era item de série, assim como o novo sistema de ventilação (inclusive com teto solar), as calotas de alumínio, os pneus radiais e a pintura em dois tons.
Com a F-100, a Ford inaugurou em 1957 o segmento das picapes grandes nacionais. O V8 da marca sempre foi referência de força em utilitários até que, em 1979, surgiu a F-1000. O zero a mais no nome indicava seu motor a diesel, de quatro cilindros e capaz de levar 1 000 kg. Ela foi uma resposta à D-10 da Chevrolet, lançada no mesmo ano, quando as duas marcas passavam por um processo de atualização de seus motores.
Em outubro de 1957, a Ford começava a produzir em sua fábrica no bairro do Ipiranga, São Paulo, a picape F–100. O modelo seguiu o caminhão leve F-600, cuja fabricação começou um ano antes.
O aspecto mais rural durou até meados dos anos 80, quando veio a febre de picapes nas cidades, fossem elas transformadas (convertidas para cabine dupla ou SUV), fossem antigas customizadas como hot rod. Os modelos de série ganhavam acabamento esportivo para atrair o público mais jovem, como faixas laterais de cores vivas e rodas diferenciadas.
Baseada na F-100 de 1978, a F-100 Eluminator apresenta tração nas quatro rodas por meio de dois motores elétricos compartilhados com o Mustang Mach-E GT Performance Edition.
A F1000 surgiu como sucessora da Ford F100 e em realidade é o mesmo produto, só que rebatizado e com motores maiores. Apareceu em 1979 com motor diesel 3.9 da MWM e atravessou metade dos anos 80 com essa opção, até receber um motor seis em linha Thiftpower 221, que tinha 3.6 litros e equipava o Ford Falcon argentino.
A Ford F100 permaneceu como picape de entrada principal da Ford, pois após 1979, a marca americana não dispunha mais da velha F75, ex-Rural Willys Pickup. Enquanto sua estrela ia se apagando, sua irmã F1000 ia brilhando a partir da mesma época, introduzindo o motor diesel MWM D229-4 com 3.9 litros, 86 cavalos a 3.000 rpm e 26,3 kgfm a 1.600 rpm.
Durante os anos 80, a Ford entrou em um embate com a General Motors pela liderança no mercado de picapes e a briga entre as duas não ajudou a manter a F100 num status mais elevado e isso acelerou seu fim para 1985. Embora o motor 2.3 tenha se mantido um pouco mais, a proposta de uma picape movida por álcool fez a montadora trazer da Argentina a solução.
Mas, isso não acabou indo para a Ford F100, que era limitada pelo motor 2.3 a álcool, então única opção do modelo. A F1000 tinha motor diesel e ganhou um seis em linha, o apelidado de “motor Falcon”. Nesse ponto, a Ford eliminou o modelo e transferiu seu motor de quatro cilindros para a F1000 por breve período.
Para 1991, veio a versão Turbo, com 119 cv. Rápida como um carro de passeio, em nosso teste fez de 0 a 100 km/h em 18 segundos e atingiu 143 km/h. “E, mais importante: carregada com o peso máximo (1.005 kg), ela atingiu 140 km/h, enquanto a picape com motor aspirado estacionava nos 108 km/h”, dizia o texto de janeiro de 1991.